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Suicídio: conhecer para prevenir


As estatísticas apontam um cenário preocupante quanto ao suicídio no mundo, tornando-se um grave problema de saúde pública. Segundo a Organização Mundial da Saúde, embora o suicídio seja evitável, todos os anos são notificados próximo de 1 milhão de mortes intencionais autoprovocadas (WHO, 2014).


A cada 40 segundos ocorre um suicídio em algum lugar do planeta, paralelo a um considerável contingente de comportamentos suicidas, tais como tentativas, planejamentos e pensamentos de morte. Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria, a cada 3 segundos uma pessoa atenta contra a própria vida (ABP, 2014).


De acordo com Vidal et al. (2013), vários estudos indicam que as tentativas podem ser até 40 vezes mais frequentes do que os suicídios consumados, sendo que muitas destas são de gravidade suficiente para requerer cuidados hospitalares emergenciais, podendo causar, inclusive, lesões permanentes e incapacitantes. Além disso, para cada tentativa é possível que existam outras 4 que não foram notificadas.


O Brasil é o oitavo país em números absolutos de suicídios. Em 2012 foram identificadas 11.821 mortes, cerca de 30 por dia, sendo 9.198 homens e 2.623 mulheres. Entre os anos 2000 e 2012, ocorreu um aumento em 10,4%, sendo um crescimento de mais de 30% em jovens (VIDAL et al., 2013; ABP, 2014; BOTEGA, 2015).


A mortes por suicídio são em torno de 3 vezes maiores entre os homens, embora seja observada uma relação inversa quanto às tentativas, já que, em média, as mulheres tentam 3 vezes mais. Quanto à faixa etária, as maiores taxas são habitualmente mais frequentes em pessoas idosas e as tentativas entre os jovens, porém com padrão variável em determinados países e regiões. No Brasil, a residência é o local onde predomina o ato suicida (51%), seguida por suicídios em hospitais (26%). Os principais meios são lesão autoprovocada (p. ex. enforcamento, disparo de arma de fogo, precipitação de altura) e autointoxicação (p. ex. ingestão de pesticidas, medicamentos e outras substâncias nocivas) (BOTEGA, 2014; BOTEGA, 2015).

Fatores diversos estão associados ao risco de suicídio, caracterizando-se como importantes sinalizadores. Destacam-se a tentativa prévia e presença de sofrimento psíquico associados a transtornos mentais não tratados ou tratados de forma inadequada, tais como depressão (unipolar e bipolar), transtorno de personalidade (p. ex. borderline), esquizofrenia e dependência química. Dentre outros fatores, estão a história familiar; eventos adversos na infância e adolescência; traço de personalidade impulsivo, agressivo e instável; doenças clínicas incapacitantes; viver sozinho; não ter filhos; perdas recentes e outros estressores; problemas financeiros e desemprego; aposentadoria; situação de rua; idade entre 15 e 30 anos e acima de 65 anos (OMS, 2012; ABP, 2014).


Dentre os fatores de proteção, evidenciam-se autoestima elevada; resiliência; bons laços sociais; suporte familiar; senso de responsabilidade; ter crianças em casa; religiosidade; acesso a serviços de saúde; conhecimento da população sobre o tema suicídio (OMS, 2012; ABP, 2014).

Enfatizam Bertolote et al. (2010) que é possível avaliar o risco individual das pessoas em realizar a própria morte, baseando-se nos fatores de risco e de proteção investigados em um atendimento especializado. A melhor estratégia para pessoas em risco - seja baixo (pensamento), médio (planejamento de caráter não imediato) ou alto (planejamento de caráter imediato) -, é adotar acolhimentos com medidas preventivas singulares, a curto e a longo prazos, que possibilitem a proteção da vida.


A maioria dos suicidas é portador de transtorno mental, com destaque à depressão. Cerca de 50% a 60% dos que morreram por suicídio, nunca consultaram um profissional da saúde mental (psicólogo, psiquiatra) ao longo da vida. Apenas metade dos que morrem foram a uma avaliação médica no período de seis meses que antecederam a morte (ABP, 2014).


Qualquer intenção de morte, por mais ingênua que se mostre, deve ser considerada por familiares, amigos e profissionais da saúde em geral, de forma a facilitar o encaminhamento e avaliação minuciosa para estabelecimento do tratamento correto, que pode ser considerado desde um acompanhamento ambulatorial até um internamento para o acompanhamento mais intensivo.


É importante salientar que diversos são os motivos que podem impedir que uma pessoa seja olhada como alguém que clama por socorro e consequentemente tenha espaço para falar sobre sua dor dilacerante, alterando, assim, seu estado interior. Os estigmas relacionados ao tema são capazes de gerar constrangimento e silêncio, já que a morte, sobretudo a suicida, é assunto proibido, ora sinal de pecado, ora sinal de fraqueza. A falta de compreensão só piora o quadro, tornando urgente a desconstrução do senso comum e preconceito em torno do suicídio.


A figura abaixo ilustra os mitos e verdades sobre o comportamento e risco suicida, evidenciando o papel do conhecimento como contribuinte para a prevenção.


Figura 1: Mitos e verdades sobre o suicídio.

Fonte: Associação Brasileira de Psiquiatria, 2014.

Onde buscar ajuda:

-SAMU (192)

-Unidade de Pronto Atendimento (UPA)

-Pronto socorro de hospital geral

-Unidade de saúde (US)

-Centro de Atenção Psicossocial (CAPS)

-Clínica de atendimento psiquiátrico e psicológico

-Hospital psiquiátrico

-Centro de Valorização da Vida (CVV) – telefone 141 ou www.cvv.org.br para chat, Skype, e-mail

REFERÊNCIAS

ABP - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA. Suicídio: informando para prevenir. Brasília: CFM/ABP, 2014.

BERTOLOTE, J. M. et al. Detecção do Risco de Suicídio nos Serviços de Emergência Psiquiátrica. Revista Brasileira de Psiquiatria, vol. 32, n. 2, pp. 587-595, out., 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbp/v32s2/v32s2a05.pdf

BOTEGA, N, J. Crise Suicida: Avaliação e Manejo. Porto Alegre: Artmed, 2015.

BOTEGA, N. J. Comportamento Suicida: Epidemiologia. Psicologia USP, vol. 25, n. 3, pp. 231-236, 2014. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pusp/v25n3/0103-6564-pusp-25-03-0231.pdf

CVV - Centro de Valorização da Vida. Onde buscar ajuda. Disponível em: www.cvv.org.br

OMS - ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Saúde Pública Ação para a Prevenção de Suicídio: uma estrutura. OMS, 2012. Disponível em: http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2013/07/documento-suic%C3%ADdio-traduzido.pdf

VIDAL, C. E. L. et al. Tentativas de Suicídio: Fatores Prognósticos e Estimativa do Excesso de Mortalidade. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, vol. 29, n. 1, pp. 175-187, jan., 2013. Disponível em: http://www.scielosp.org/pdf/csp/v29n1/20.pdf

WHO - WORLD HEALTH ORGANIZATION. Preventing Suicide: a Global Imperative. Geneva: WHO, 2014. Disponível em: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/131056/1/9789241564779_eng.pdf?ua=1&ua=1

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